Lula declarou não reconhecer a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais venezuelanas, após dias semanas de atraso. Em entrevista à Rádio T, de Curitiba (PR), o presidente disse “se ele (Maduro) tiver bom senso, poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela e quem sabe até convocar novas eleições”.
A ideia de uma nova eleição no vizinho país tem sido plantada por aliados do regime chavista, mas é vista com ceticismo pela maioria da comunidade internacional, que vê na estratégia uma armadilha que poderia ser apoiada por Brasil, Colômbia e México para dar a Maduro uma nova oportunidade de manter-se no poder. Para Lula, os problemas na eleição do dia 28 ocorreram quando não se divulgou as atas de votação e, com isso, o pleito ficou sem comprovantes confiáveis. Por isso, ele identifica problemas em validar a eleição e também em dar a vitória à oposição porque, a exemplo de Maduro, ela também não dispõe de provas cabais de que recebeu a maior votação. Com esse raciocínio, cai também por terra a proposta de realizar um pleito de segundo turno. Seria ilegítimo fazer o segundo turno quando não há previsão legal para isso e o primeiro turno não está consolidado.
A nosso ver, o processo eleitoral da Venezuela tornou-se problemático a partir do momento em que o presidente Maduro e seus aliados da Administração Eleitoral impedir a pré-candidata Maria Corina Machado de participar. Ela simplesmente apoiou Edmundo González Urrutia e, na apuração paralela das oposições, ele foi o vencedor com 66% dos votos.
Ao rejeitar o conhecimento à eleição de Nicolás Maduro, Lula e o Brasil alinham-se aos Estados Unidos, União Europoéia, Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização das Nações Unidas (ONU) e uma dezena de países latinoamericanos que também não reconhecem o resultado divulgado em Caracas e exigem uma solução. Vale lembrar que durante a quarta-feira, o presidente do México, Lopez Obrador e sua sucessora, Claudia Sheinbaum, já eleita, anunciaram que se distanciariam do aconselhamento ao lado de Brasil e Colômbia pela solução da crise política na Venenzuela. Com a rejeição de Lula, restará apenas a Colômbia na antiga posição.
Ninguém sabe, ainda, quais serão as reações de Maduro e Urrutia, que se consideram eleitos. O futuro da Venezuela dependerá da posição de ambos. Maduro e seus aliados, especialmente os da segurança pública, deverão ser pressionados a libertar os mais de 2 mil opositores que foram presos durante os protestos à fraude eleitoral. Dependendo do que ocorrer, poderá até se concretizar o ‘banho de sangue’ que Maduro, em campanha, eleitoral, previu para o seu país caso perdesse a eleição. No momento é impossível fazer uma previsão do que ocorrerá de agora até janeiro, quando o novo governo deverá ser empossado.
Como brasileiros, louvamos a atitude do presidente Lula de não reconhecer o resultado viciado do pleito anunciado em Caracas. Também torcemos para que se mantenha distante daquela confusão e apenas guarde a nossa fronteira caso a situação degringole no vizinho país. Meter-se lá seria só para ter prejuízo político, institucional e talvez até financeiro. Eleição é um evento interno de cada país. O máximo que os vizinhos devem fazer é reconhecer ou não o eleito. Meter-se na contenda, jamais.
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