Um dos maiores nomes do humor gráfico brasileiro, o cartunista Ziraldo morreu ontem sábado (06/04), aos 91 anos. Criador do Menino Maluquinho, da Turma do Pererê, autor de livros como Flics, e um dos fundadores da turma do Pasquim, criado para combater a ditadura militar, o mineiro de Caratinga Ziraldo Alves Pinto morreu dormindo, na tarde deste sábado, em seu apartamento no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, segundo informações da família.
De acordo com a filha Daniela Thomas, a causa da morte foi a falência múltipla dos órgãos. Ziraldo enfrentava problemas de saúde em decorrência de três acidentes vasculares cerebrais (AVCs), que ocorreram entre os anos de 2018 e 2022.
Ziraldo teve um início precoce na imprensa. Seu primeiro desenho foi publicado quando ele tinha apenas seis anos de idade, no jornal Folha de Minas, em 1939. Sua carreira ganhou projeção nacional quando passou a integrar e a publicar na revista o Cruzeiro, no início dos anos 1960, e depois passou ao time do Jornal do Brasil, em 1963. Entre seus personagens mais famosos estão, além do Menino Maluquinho, Mineirinho, Jeremias, o Bom, e Supermãe.
Seu maior sucesso de público, O Menino Maluquinho foi adaptado por Helvécio Ratton para o cinema em 1995, com Samuel Costa (no papel do Menino Maluquinho. No elenco ainda estavam, Patrícia Pillar, Roberto Bomtempo, Edir Castro, Hilda Rebello e Luís Carlos Arutin . Em 1998, o filme ganhou uma sequência.
Ao lado de Millôr Fernandes, Jaguar, Tarso de Castro, Henfil, Sérgio Augusto, Ivan Lessa, Paulo Francis e Sérgio Augusto, participou da fundação de um dos principais jornais de oposição à ditadura militar, cujo golpe completou 60 anos, este mês.
No verbete que dedicou na série retratos 3x4 de alguns amigos 6x9, em 1969, Millôr escreveu: “Ziraldo é de Caratinga, cidade mineira de 3 milhões de habitantes (em toda a sua história). Desde menino perseguiu o sucesso, até que o sucesso só passou a frequentar os mesmos locais que ele. Aos 10 anos fazia versos, mas aos 15 já fazia humor, que é o reverso. Seu primeiro emprego foi na Fiat Lux, aquela firma que fez a primeira iluminação no mundo. Sua frustração maior é não ser um escândalo nem uma calamidade. Pois, popularíssimo, acha, como eu, que merecia ser mais incompreendido.”
A repercussão pela partida de Ziraldo foi imediata. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva postou nas redes sociais uma nota de pesar: “O Brasil perdeu neste sábado, 6/4, um de seus maiores expoentes da cultura, da imprensa, da literatura infantil e do imaginário do país. Chargista, caricaturista, escritor e jornalista, o mineiro Ziraldo é nome onipresente na cultura popular brasileira. O Menino Maluquinho, seu personagem mais conhecido, povoou mentes e a imaginação de crianças de todas as idades em todas as regiões. Um livro que virou filme, peças, pautou músicas e vem sendo passado de pais para filhos como sinônimo de inocência, curiosidade e beleza, além de um olhar esperançoso em relação aos imensos potenciais do mundo em que vivemos”.
São inúmeras e diversas as contribuições de Ziraldo, seja com a turma do Pererê, em seu trabalho à frente do Pasquim, nos anos da ditadura, em livros inesquecíveis, como Flicts, e num extenso trabalho em revistas e jornais brasileiros. Na defesa da imaginação, de um Brasil mais justo, com democracia e liberdade de expressão.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também postou uma mensagem sobre a partida de Ziraldo. "Uma perda irreparável. Ziraldo foi uma fonte de inspiração. Lembro-me do tempo em que participei de uma montagem baiana da peça 'O Menino Maluquinho'. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Obrigada por tudo, Ziraldo. Sua partida deixa um vazio imenso", publicou a ministra.
O cartunista Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, por sua vez, revelou em sua rede social a surpresa e a tristeza com a morte de Ziraldo. “Que tristeza! Não tenho palavras. Perdi mais que um grande amigo. Perdi um irmão. Das letras, dos traços e da vida! Mas ele estará sempre em meu coração. E nos corações de milhões de brasileiros maluquinhos de todas as idades, que seguirão apaixonados por sua obra. Viva, Ziraldo”, escreveu Maurício de Souza.
Ziraldo era um incentivador de jovens talentos. Um deles foi o quadrinista André Dahmer, que fez questão de deixar registrado esse reconhecimento.
“Ziraldo me deu a primeira oportunidade de desenhar profissionalmente, quando foi editor do Caderno B, no extinto Jornal do Brasil. Também escreveu prefácio do meu primeiro livro. Dono de desenho monumental, foi um dos maiores artistas gráficos de todos os tempos. Descanse em paz”.
O corpo de Ziraldo será velado neste domingo, a partir das 10h, na sede da Associação Brasileira de Imprensa - ABI, no Centro do Rio de Janeiro, e o sepultamento está previsto para as 16h30, no Cemitério de São João Batista, em Botafogo.
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